O levante na Líbia, país dono da oitava maior reserva de petróleo do mundo, eleva o preço dos combustíveis.
As preocupações do Ocidente com o Oriente Médio podem ser resumidas a dois tópicos: terrorismo e petróleo. Com a conflagração na Líbia, os levantes no norte da África tocam finalmente na ferida econômica. Os campos líbios, os maiores da África, abastecem cinco de cada l00 barris de petróleo consumidos na Europa. O petróleo extraído na Líbia é de ótima qualidade, do tipo leve e utilizado na produção de derivados nobres, como a gasolina e o querosene de aviação. Nove petrolíferas, incluindo a Petrobras, foram obrigadas a retirar seus funcionários do país e a paralisar suas operações. Metade da exportação líbia foi suspensa na semana passada e o ditador Muamar Kadafi ameaça interromper completamente a extração petrolífera. No mercado londrino, as cotações do barril do tipo Brent chegaram a atingir 120 dólares, o valor mais alto desde julho de 2008. Ainda que a Líbia responda por apenas 2% das exportações mundiais, o temor dos analistas e investidores é que as manifestações se estendam a outros produtores, em especial a Arábia Saudita, que detém a maior reserva do mundo, e, assim, ponham em risco a oferta mundial do óleo. Desde que a tormenta começou nos países do mundo árabe, o preço do barril subiu 13%. Em fevereiro do ano passado, o valor era inferior a 80 dólares.
Ninguém consegue estimar com precisão qual será a trajetória dos preços do produto. “No momento, a única palavra que pode ser usada para descrever o mercado mundial de petróleo é incerteza”, afirmou a Veja o consultor Tancred Lidderdale, do Departamento de Energia dos Estados Unidos. Ma quanto a um aspecto não reside dúvida: se as cotações permanecerem em alta, a atividade econômica fatalmente cairá em todo o planeta. Como mostra o gráfico abaixo, episódios que desencadeiam uma alta abrupta do barril são acompanhados logo em seguida por uma forte retração no PIB global. Essa reação é particularmente intensa nos Estados Unidos. O aumento da gasolina e dos derivados mina o poder de compra das famílias, derrubando a economia em recessão. Foi isso que ocorreu após eventos como a crise do petróleo dos anos 70, a guerra do Golfo, em 1991, e os atentados do 11 de setembro, em 2001. Há estimativas de que o efeito em cadeia sobre a economia de um aumento de 10 dólares no preço do barril, se mantido por dois anos, reduzirá o crescimento do PIB americano em 0,5 ponto porcentual. Era tudo aquilo de que a economia mundial não precisava neste momento.
No Brasil, o preço dos combustíveis é controlado pela Petrobrás e as oscilações internacionais acabam atenuadas. Não deverá haver reajustes da gasolina nem do diesel por enquanto. Mas o preço de ouros derivados, como a matéria-prima do plástico, já subiu, contribuindo para o aumento da inflação. Era tudo aquilo de que a economia brasileira não precisava neste momento.
Fonte:
O fogo chega ao barril, Luís Guilherme Barrucho e Érico Oyama, Especial Revista Veja, edição 2206, ano 44- nº 9 , pgs.84-85, 2/03/2011.
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